quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Meu anjo protetor.

Oi vô, quanto tempo né? O senhor ainda se lembra da minha voz? Porque eu lembro da sua, lembro todos os dias. Ninguém aqui tem a noção do quanto eu sinto sua falta, do quanto eu queria poder te abraçar e te sentir perto de mim. Lembra vô, que por causa do câncer o senhor não podia tomar chimarrão quente e tinha que tomar em cuia separada? Lembra que eu ia e sentava do seu lado e tomava com o senhor? Lembra que eu lhe falei 'nossa que coisa fria, éca' e fiz cara de nojo e o senhor riu e disse que não precisava tomar se eu não quisesse, eu tomaria qualquer coisa pra poder estar do teu lado de novo vô. Desculpa por nunca ter escrito algo para o senhor antes, me perdoa. Sabe vô, quando eu falo com o senhor mesmo sem ter uma resposta, eu me sinto bem. Porque eu sei que em qualquer lugar que o senhor esteja, eu sei que vai estar me ouvindo. Nunca pense que eu lhe esqueci, isso nunca vai acontecer. O senhor é importante demais para ser apagado com a droga do tempo. Eu sei que já fazem 4 anos desde que eu não vejo o seu sorriso e que não ando de braço dado com o senhor na rua, que não tenho mais com quem conversar sobre futebol, que não tenho ninguém pra me fazer rir de forma tão simples. Eu nunca vou conhecer alguém capaz de chegar aos teus pés vô, nunca ninguém vai conseguir tentar te substituir. Vô, o senhor lembra de quando eu era criança? De como o senhor me fazia cócegas e minha barriga doía de tanto rir? De quando eu brincava com seus óculos e te fazia caminhar até o mercado pra comprar doces pra mim. Vô, o senhor lembra que não me deixavam entrar no hospital pra te ver? Lembra aquela vez que eu dei um jeito e subi correndo as escadas ate o corredor que dava pro teu quarto? Lembra que depois de uns quinze minutos a enfermeira veio me buscar pra descer? Lembra o quanto nós rimos? Eu odiava quando eu chegava da escola e me diziam que o senhor ainda estava no hospital. Eu ainda odeio hospitais. Ai vô, seu abraço era tão maravilhoso. Servia como um escudo protetor de tudo o que havia de mal. Dizem que não se pode chorar quando você falar, lembra ou escreve de pessoas que não estão mais entre nós, mas eu não consigo conter minhas lágrimas vô. Eu nunca vou conseguir contê-las. Eu me lembro de tudo como foi naquele dia. Eu sentia uma inquietação dentro do peito, mas eu acabei de assistir o jogo do inter contra o botafogo, eu lembro que o inter ganhou de 2x1. Como tava muito frio eu deitei, era meia noite e eu não tinha conseguido dormir. Depois de algum tempo o celular da mãe tocou, vô eu lembro que eu comecei a chorar e a urrar de tanta dor. Mesmo sem a minha mãe ter me dito nada, eu já sabia. Eu odeio aquele dia. Odeio aquele celular por ter tocado. Lembro que fomos correndo pro hospital, já não adiantava mais. Vô, sabe o quanto foi horrível saber que o coração da pessoa que você ama tá parando de bater aos poucos e você tá ali a poucos metros de tudo sem poder fazer nada? Acho que ninguém pode entender. Eu lembro da Queli dobrando o corredor aos prantos, e eu levantando do chão frio daquela merda de hospital e indo abraçar ela sabendo que o senhor tinha partido. Droga vô, eu daria tudo, tudo mesmo pra poder te abraçar de novo e ouvir sua voz. Eu queria poder te apresentar meu namorado e saber se o senhor o aprova, queria poder saber se você reconheceria que sua menininha cresceu. Queria saber se o meu vô, o meu anjo, se orgulha de mim. Se por ventura se orgulha do que sou. Eu queria poder viver tudo que nós dois vivemos de novo vô, eu queria poder ter o senhor a menos de 100 metros da minha casa novamente. Queria poder ir la na vó e saber que seu lugar ao lado do fogão a lenha esta preenchido de novo. Eu só queria saber se o senhor gosta de mim ainda do jeito que eu me tornei. Seria tudo tão mais fácil. Eu te amo minha estrela guia, te amo de um jeito imparcial, inatingível e inquantificavel. Obrigado por ser meu pai, me ajudar e me aconselhar. Meu vô, obrigado por existir. Mesmo que agora já não possamos nos ter no físico. Eu quero lhe pedir perdão de novo, por tudo o que eu fiz que de alguma forma te machucou meu avô. Quero que me perdoe por cada palavra que eu disse que te fez duvidar do meu sentimento pelo senhor. Quero que me perdoe por todos os meus erros. E dai de onde voce esta, lembra que a sua neta aqui te ama e não consegue descrever esse sentimento enorme em palavras. E que ela se orgulha de ter um avô como o senhor.
Cheguei no cemitério, estava debaixo do arco do portão central. Revisei mentalmente pra onde eu tinha que seguir e fui caminhando, ouvindo o esmagar das britas debaixo da sola do meu sapato. Retirei o capuz, me ajoelhei. Observei o nome na lápide, passei os dedos no contorno da foto, pelas letras e deixei minha mão cair. Ajeitei o buquê de cravos que um mês atras descobri que você gostava. Me senti invadindo o lugar, acho que essa era a impressao porque nunca tive a oportunidade de te conhecer. Acho que não entendes o quanto eu queria ter podido ter a chance de me apresentar num domingo de tarde antes de sei la, começar o jogo de futebol do seu grêmio contra aquele time que estava na ponta da tabela. Sabe, queria poder tomar chimarrao contigo nas tardes de domingo, com você me contando histórias da sua vida que eu adoraria ter o prazer de ouvir. Ver que eu tirei um sorriso seu seria importante demais pra mim. Queria poder construir com você um laço de 'pai e filha', daqueles bem paternais e fortes. Queria poder investir toda a minha carência paterna no nosso laço, me exforçando o máximo. Queria que você pudesse ser meu segundo pai, meu ombro 'amigo'. Passar horas conversando sobre o futebol, falar de grêmio, de inter, de tudo. Ficar ouvindo você falar algo sobre seus gostos pessoais e descobrir que a hora passa rapido demais quando estou com você. Partilhar histórias, risadas. Te contar da minha vida, rir das pessoas da tv e poder te abraçar. Quando eu estivesse indo embora, que voce me falasse algo como 'ah, espero que volte no proximo final de semana', poder te fazer um convite para vir conhecer a minha familia. Sogro, posso te dizer uma coisa? Mesmo que nao tenhamos sido apresentados por obra do destino, saiba que eu lhe admiro. As coisas que seu filho me conta, as histórias sabe, são de um homem batalhador. Mesmo sem te conhecer, eu sinto um sentimento puro e nobre por ti. E, eu queria poder lhe pedir se eu posso mesmo te chamar de sogro. Eu queria te pedir a benção pra que o namoro de seu filho comigo dê certo. Eu sei que você se orgulha muito do seu menino, que ele é como uma pedra preciosa de valor inestimavel. Eu te prometo cuidar dele, eu e você sabemos que ele não sabe fazer isso direito. Eu prometo zelar e dar muito amor e carinho pro seu filho. Eu prometo tentar ser tudo o que ele quer. Eu juro que eu não vou deixar ele cair enquanto estiver sob a resguarda de meus braços. Eu só queria que você soubesse disso meu sogro, queria sua benção. Muito.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Um futuro capitulo da nossa historia.

Eu só quero você e eu daqui um tempo juntos, andando de mãos dadas e rindo de histórias passadas, com o mesmo sorriso do começo de tudo. Eu acordada com sua mão entrelaçada na minha e imaginando o quanto eu te pedi comigo toda noite antes de dormir. Sua respiração na minha nuca, seu hálito fresco perto da minha boca. Nós dois sentados na praia à noite olhando as estrelas e inventando constelações, dando nomes a elas e vendo o brilho delas e seu contraste por sobre a agua do mar junto com a lua. Eu e você na cozinha tentando cozinhar algo, você me fazendo rir derrubando os ingredientes e ate mesmo começando uma guerra de comida. Eu ficando irritada contigo por só saber fazer idiotices, fazendo bico quando ficava triste e manha quando estava carente. E tu, vindo de mansinho, me abraçando por tras, mechendo no meu cabelo, fazendo caricias por meu corpo e finalmente um ataque de cócegas para deixar de vez a parte do 'irritada' pra lá. Nós dois sentados no telhado, eu com a cabeça em seu peito ouvindo seu coração bater e você brincando com meus dedos e sugerindo nomes aos nossos filhos, dizendo como ia ser o jeitinho de cada um e implicando comigo dizendo que se puxassem pra mim iam ser chatos. Eu rindo das tuas piadas, do seu jeito de andar, das suas caretas, das suas respostas sem fundamento. Você e eu, num dia frio, embaixo de um cobertor com chocolate quente e porcarias pra comer enquanto assistiamos meu filme preferido. Eu chorando nas partes tristes e dramaticas com você comigo, a cada gota que caia das lagrimas me abraçando ainda mais forte. Tu dizendo no meu ouvido o quanto me ama e me acha linda, de como eu fico quando estou braba e imitando o meu jeito de falar. Seu corpo sobre o meu e a respiração forte no meu pescoço, suas pernas enroladas na minha, nossos corpos suados pressionando um contra o outro, seus beijos invasivos por todo o corpo, minhas mãos frias escorregando sobre seu peito, suas mordidas pelas minhas pernas, coxas, braços, barriga por todo o lugar, e suas mãos suaves desenhando as linhas do meu corpo. Você buscando abrigo nos meus braços, nós dois contando as horas no trabalho para nos ver de noite. Eu e você com nossos filhos correndo pra fora e pra dentro de casa, nós dois jogando futebol com eles, brincando e os mimando ao maximo. Você todo atensioso indo ate o quarto de cada um e dando um beijo de boa noite e por fim um 'eu te amo filhão', checando as cobertas para que tivesse certeza de que nenhum ia passar frio ou sentir calor. Sua escova de dentes do lado da minha, suas roupas desdobradas e desorganizadas misturadas com as minhas. Eu com sua blusa predileta andando pela casa e mostrando a nossa filha um botão de rosa que floreceu no jardim. Nós dois saindo um pouco antes do trabalho para ir buscar nossos anjos na escola. Você bobão, quase chorando por ganhar um cartao deles e um presente que eu ajudei a comprar no dia dos pais. Você e eles me surpreendendo no dia das mães com flores e chocolate. E no dia dos nossos aniversarios eles tentando dar o melhor para nos fazer um presente com ingredientes da cozinha. Acabariamos os quatro rindo de tudo e as crianças depois de comer indo tomar um bom banho para tirar a areia e a terra das brincadeiras que a gente inventou. Quando maiores nossos pequenos pedindo nossa historia desde o começo, querendo saber parte por parte como nos conhecemos. Eu chorando por relembrar de tudo e vocês me abraçando coletivamente. Por fim, nos e nossos filhos num domingo de verão na praia, eles brincando na areia e no mar e nós dois juntos um abraçado no outro, juntos eternamente.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Importante é deixar partir.

Você deixou cair as mãos por sobre meus ombros, deslizou-a até as pontas dos meus dedos, passou pela minha cintura e me apertou contra o peito. Me deu um daqueles abraços de quem pede ajuda por intermédio mas nao sabe como falar. Deixou-se esquecer pelo calor dos nossos corpos, queria eternizar aquele momento, ter de lembrança na memória. Tocou meu rosto suavemente, desenhou e redesenhou meu lábios, nariz e sombrancelha. Passou a mão no meu cabelo, enrolou nas pontas dos dedos e deixou os fios cairem, escorrerem pelas mãos. Me deu um beijo na testa com ternura e me fitou. Tentei enxergar além de seus olhos castanho esverdeados e o que vi era uma partida, daquelas que doem mesmo. Que te deixam com um buraco no peito imensuravel, mas que depois de um tempo outra pessoa aparece com uma pá e um pouco a mais de sentimento e concerta, cura. Perdi-me, a magoa de partir era tanta que lhe embaçava a visão. Soltou uma lágrima, duas, três. Respirou fundo quatro vezes e se recompôs. Ainda me olhava, sabia que eu tinha entendido mas tinha medo de partir e me deixar ser de outro alguem. Me aconchegou em seus braços pela ultima vez, me apertou moderadamente e fez com que suas mãos deslizassem pelas minhas costas. Inclinou a cabeça, me beijou a bochecha e sorriu como quem agradecia todos os momentos. Virou-se e caminhou decidido para uma nova vida. Pontadas de dor me surgem portanto toda vez que eu penso que podia ter tido saido correndo atras de voce e nao lhe deixar partir. Então meu dengo, perdoe-me por nao ter sido capaz. Eu falhei.